quinta-feira, 21 de julho de 2016

Justiça restaurativa: violência e construção de paz será tema de debate na UEPB

(Publicação original)

Nesta sexta-feira, 22 de julho, a mesa redonda ‘Violência e Construção de Paz: do local ao internacional’ encerrará duas semanas de eventos em João Pessoa com foco no tema Justiça Restaurativa. O debate ocorrerá no auditório Pioneiros da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), a partir das 19h, e será aberto à comunidade acadêmica e sociedade em geral.
A mesa redonda é realizada pelo Grupo de Trabalho sobre Mediação, Conciliação e Justiça Restaurativa (GT-4) e promovida pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais e o Grupo de Estudos de Paz e Segurança Mundial da UEPB. O GT-4 é um grupo criado no âmbito do Fórum Metropolitano de Discussão e Diálogo de Prevenção e Monitoramento de Violências para conjugar esforços e priorizar ações de fortalecimento de valores centrais e sociais e de mudança de atitude coletiva, para elevar os níveis da segurança humana na região metropolitana de João Pessoa.
O evento terá a participação do psicólogo Paulo Moratelli, coordenador técnico do Programa Municipal de Pacificação Restaurativa de Caxias do Sul (RS). Desde maio de 2014, o psicólogo integra o corpo docente da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, viajando pelo Brasil para capacitar facilitadores em Círculos de Construção de Paz e Justiça Restaurativa.
Além de Paulo Moratelli, participará da mesa o procurador da República José Godoy Bezerra de Souza, membro do Ministério Público Federal na Paraíba. Atualmente Godoy é procurador regional dos Direitos do Cidadão e integrante do Fórum Metropolitano de Discussão e Diálogo de Prevenção e Monitoramento de Violências.
Pela UEPB, a exposição do tema será feita pelo professor Paulo Kuhlmann, doutor em Ciência Política e coordenador do Grupo de Estudos de Paz e Segurança Mundial da UEPB e do Projeto Universidade em Ação, que lida com a educação para a paz; e pelo professor Fábio Nobre, doutor em Ciência Política.
A mesa redonda terá como moderadora a mestranda em Relações Internacionais pela UEPB, Catarina Bezerra.
Fórum – Lançado em João Pessoa, em 19 de novembro de 2015, o Fórum Metropolitano de Discussão e Diálogo de Prevenção e Monitoramento de Violências é fruto de mais de um ano de diálogos entre diversos órgãos e entidades. O fórum é parte do projeto de trabalho constituído a partir das investigações do Inquérito Civil nº 1.24.000.002944/2014-38 que tramita na Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão, órgão do Ministério Público Federal na Paraíba, e que tem por objetivo investigar os motivos ensejadores do grande número de homicídios no estado, sobretudo entre jovens, e efetivar soluções de forma integrada entre os entes federativos.

domingo, 1 de maio de 2016

Evento no CCBSA discute cultura de paz e empoderamento local em comunidades nacionais e internacionais

(publicado em http://centros.uepb.edu.br/ccbsa/evento-no-ccbsa-discute-cultura-de-paz-e-empoderamento-local-em-comunidades-nacionais-e-internacionais/)

29 de abril de 2016


Com a presença de estudantes do ensino médio, da graduação e pós-graduação, o Grupo de Estudos de Paz e Segurança Mundial da Universidade Estadual da Paraíba (GEPASM/UEPB) e a pós-graduação em Relações Internacionais, realizou na manhã desta sexta-feira (29) o evento “Abordagens Críticas de Segurança e de Paz nas Relações Internacionais”, no qual foram apresentadas as pesquisas desenvolvidas na área de Segurança no âmbito da Graduação e Pós-Graduação em Relações Internacionais da UEPB e fruto da produção do GEPASM.

Na oportunidade, a mestranda em Relações Internacionais Suerda Araújo apresentou o tema a “Redescoberta do local na construção da paz”, destacando a virada epistemológica que considera o empoderamento de agentes locais como uma iniciativa que vai além de ações institucionais ou governamentais. Essa perspectiva foi complementada pela mestranda Catarina Bezerra que abordou a “Transformação de conflitos e os movimentos pela paz na Colômbia”, enfatizando a contribuição dos atores locais para a construção da paz no referido país.



A mestranda em Relações Internacionais Deisiane Viana abordou “O conceito de paz híbrida e o micro-peacebuilding no Afeganistão”, considerando que diante do cenário de guerra do país o conceito de paz híbrida seria a melhor propositura. E a graduada em Relações Internacionais e Direito Kamila Borges apresentou o tema “Feminismo e pós-colonialismo”, com o relato que buscou instigar os presentes sobre a necessidade de desnaturalização de um discurso que caracteriza a violência contra a mulher como uma prática natural da cultura de um povo.

“Ainda se tem a ideia que os estudos de paz estão longe da nossa realidade. E às vezes a ideia de paz é tão utópica que os próprios estudantes não conseguem pensá-la academicamente. Aqui desenvolvemos a ideia de paz, não como oposição à guerra, mas, mostrando o conflito como algo da natureza humana e a possibilidade de construir a paz com base no empoderamento local”, avalia Suerda.

Segundo o coordenador do GEPASM, professor Paulo Kuhlmann, o evento teve a intenção de divulgar estudos semelhantes que abordam a questão da paz no âmbito local. “Buscamos apresentar abordagens sobre o empoderamento de comunidades para gerar a paz, ou seja, a criação de ambientes de paz que vão além de tratados, mas, surgem de iniciativas locais da própria comunidade”, explicou.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Resenha - “Arts and Building Peace: Affirming the Basics and Envisioning the Future” de Cynthia Cohen

            Aproveitando o clima do verão no Brasil, o texto escolhido faz parte da edição Summer 2015 Insights Newsletter do United States Institute of Peace (USIP), que visa ampliar as perspectivas sobre a teoria e a prática no campo da Construção de Paz.
Essa edição divide-se basicamente em três partes. A primeira parte é denominada de State of the Art, onde são apresentados dois textos: The Arts and Peacebuilding: An Emerging Approach por Katherine Wood e Arts and Building Peace: Affirming the Basics and Envisioning the Future por Cynthia Cohen. A segunda parte é a Peace Arena, que é uma abertura de espaço para fomentar o debate entre pesquisadores e praticantes da Construção de Paz, nessa edição com a discussão denominada Theory vs. Practice sobre uma citação de Michael Shank e Lisa Schirch em Strategic Arts-Based Peacebuilding. Já a terceira e última parte, denominada de In Practice, traz mais dois textos com análises de situações reais de uso das artes para a Construção de Paz, sendo eles: Inspiring Youth in Burundi and the Great Lakes: A Creative Approach to Peacebuilding por Anaïs Caput e Bond Street Theatre: Fraud Mitigation by Educating the Electorate por Barmak Pazhwak.


A partir daqui foquemos em Arts and Building Peace: Affirming the Basics and Envisioning the Future, texto escrito por Cynthia Cohen. Inicialmente, a autora ressalta que há potencial nas mais variadas formas de expressão artística (literatura, música, fotografia, teatro, dança, etc.) para fomentar o campo da Construção da Paz.
Cynthia Cohen
(Imagem: Brandeis University)
Então, Cohen menciona três formas de emprego da abordagem artística: Com base na comunidade, visando transformar aqueles envolvidos diretamente com a arte; com base no artista, focando nas virtudes de um artista ou num conjunto deles para que eles possam promover transformações em outrem; ou de forma coletiva que objetiva a transformação da comunidade de maneira mais ampla.
No entanto, de acordo com a autora, o grau de efetividade da abordagem artística vai depender de diversos fatores, por exemplo, vai depender da habilidade do artista, da estética do trabalho, da sensibilidade étnica, dos recursos, da reação das vítimas, dentre outros.
Portanto, há a necessidade de se diferenciar a função da arte como arte e arte como instrumento para a Construção da Paz. Para Cohen a arte como arte é capaz de provocar uma reação a partir de “experiências estéticas”, logo, corroborando com as teorias estéticas de diferentes culturas na Construção da Paz, pois a arte como instrumento nessa área se ampliará e abordará as experiências coletivas de culturas e sociedades. Tendo como base a concepção de “experiência estética” como a apreensão humana preconcebida de tudo no mundo, por exemplo, da arte. Deste modo, a apreensão estética depende de uma mensagem – uma imagem, um som, uma textura, etc. – e de um receptor dessa mensagem.
Sendo assim, Cohen afirma que a arte tem a capacidade de estabelecer comunicação entre partes conflitantes e nem sempre através de expressões verbais, fazendo-as compartilhar sentimentos e memórias; essa conexão entre as partes conflitantes tende a colaborar para a Construção da Paz de forma não coerciva, proporcionando uma alternativa para a transformação da dinâmica do conflito. Porém, nota-se também que a estética do trabalho artístico nem sempre é voltada para a paz, como as performances teatrais dos colonizadores que apresentavam os nativos como seres inferiores.
De acordo com Cynthia Cohen, os projetos artísticos e culturais empregados para a Construção da Paz colaboram efetivamente para a transformação de conflitos ao serem direcionados para o fortalecimento das comunidades oprimidas através de técnicas de resistência não violenta, o estabelecimento da comunicação de forma positiva entre inimigos, a atração da atenção de atores externos para violações de direitos humanos em determinados locais; além de diversos outros direcionamentos.
Não obstante, Cohen fala que ainda há muitos desafios para a consolidação da abordagem artística, sendo os principais deles a redução de danos nas tentativas empreendidas e a composição de equipes de agentes transformadores realmente capacitados em usar a arte em estratégias de Construção de Paz.
Por isso, tendo em vista o expressivo aumento dos conflitos ao redor do mundo e a falência das abordagens tradicionais de segurança, a autora propõe a procura por soluções criativas, considerando as artes como um instrumento viável de contribuição positiva para as complexas estratégias de Construção de Paz.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Mini-Curso: A Virada Local nos Estudos para a Paz

O Grupo de Estudos de Paz e Segurança Mundial organiza, no dia 18 de fevereiro, o mini-curso A Virada Local nos Estudos para a Paz, realizado em vídeoconferência pelo Prof. Dr. Aureo de Toledo Gomes (PPGRI –UFU) e pela Dra. Roberta Holanda Maschietto (CES).




O objetivo do mini-curso é apresentar aos alunos, alunas e demais interessados as linhas gerais do que se convencionou chamar Virada Local nos Estudos para a Paz. O curso é dividido em duas partes, cada uma com duas horas. A primeira parte concentra-se na revisão do estado da arte, tomando como referência os trabalhos pioneiros de John Paul Lederach sobre empoderamento de agentes locais para construção da paz e passando a crítica à chamada paz liberal realizada por figuras como Oliver Richmond, Roger Mac Ginty, David Chandler, dentre outros. Assim, pretende-se discutir como este conjunto de autores e autoras passaram a perseguir teórica e empiricamente a ideia de que a paz produzida em situações pós-conflito seria híbrida, resultado de interações entre agentes internacionais e atores locais. A segunda parte do curso foca nas críticas e desafios presentes no debate atual e nas implicações metodológic as desta agenda, inclusive no que concerne a realização de pesquisa de campo. Em especial, discute-se os desafios ligados a uma agenda que visa promover a emancipação dos agentes locais. Esta discuss ão vai ser pautada em vários exemplos práticos ligados à realização de pesquisas de campo. 

O minicurso tem vagas limitadas e as inscrições podem ser realizadas clicando aqui.



Mini-Curso: A Virada Local nos Estudos para a Paz






















Responsáveis:
Prof. Dr. Aureo de Toledo Gomes (PPGRI –UFU) 

Atualmente é Professor Adjunto da Universidade Federal de Uberlândia. Atua na graduação – Bacharelado em Relações Internacionais, assim como no Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da mesma instituição. Em 2014 foi professor visitante no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade de São Paulo. Entre setembro de 2014 e setembro de 2015 foi Visiting Scholar no Humanitarian and Conflict Response Institute, University of Manchester, sob supervisão dos professores Roger Mac Ginty e Oliver Richmond. 

Currículo completo: http://lattes.cnpq.br/2049605559119536 


Dra. Roberta Holanda Maschietto (CES) 
Atualmente é pesquisadora de pós-doutorado no Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra. Obteve seu doutorado em Estudos para a Paz pela Universidade de Bradford, em 2015, tendo como orientador o prof.Neil Cooper e avaliador externo o prof. Oliver Richmond. Sua pesquisa discutiu a problemática da promoção de empodera mento local em Moçambique após a guerra incluiu 4 meses e meio de pesquisa de campo neste país.
Em 2012, obteve uma bolsa Marie Curie da União Europeia no âmbito da rede SPBuild (Sustainable Peacebuilding) para ser pesquisadora no Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra. Entre 2010 e 2012 foi co-editora do Journal of Peace, Conflict & Development, periódico de livre acesso da Universidade de Bradford e entre 2012-2014 foi editora de resenhas do International Peacekeeping Journal (2012-2014). Entre 2005 e 2009, foi professora de Relações Internacionais no Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB). 
Além de publicar em periódicos acadêmicos, escreve regularmente em seu blog peacereflections.wordpress.com e contribui com a Rede PCECS, Mundorama e o blog do John and Eleonora Ferguson Centre for African Studies (JEFCAS) da Universidade de Bradford. 
CV completo: https://coimbra.academia.edu/RobertaHolandaMaschietto 


Ementa: 


PRIMEIRA PARTE DA AULA: DA PAZ LIBERAL À VIRADA LOCAL
Prof. Dr. Aureo de Toledo Gomes


Temas a serem abordados:
1. As críticas à paz liberal
2. A importância da Virada Local
3. Hibridismo e peacebuilding 

4. Peacekeeping economies


SEGUNDA PARTE: OS DESAFIOS ÉTICOS E METODOLÓGICOS ORIUNDOS DA VIRADA LOCAL
Dra. Roberta Holanda Maschietto


Temas a serem abordados:

1.Críticas e ambivalências no debate sobre a virada local
a. As limitações do binário local/internacional
b. A romantização do ‘local’
c. Poder e dominação no âmbito local 

d. Estado e cidadania

2.Desafios metodológicos 
a. Os diferentes níveis de análise e sua combinação 
b. Particularismo vs. generalizações e implicações para a formação de teorias
c. Relações de poder durante a pesquisa de campo

d. Pesquisa empírica e emancipação


A ementa e o material para o minicurso estão disponíveis, clicando aqui.


Publicação no site da UEPB:
http://centros.uepb.edu.br/ccbsa/ccbsa-sedia-minicurso-que-discute-o-papel-dos-ambientes-locais-na-promocao-da-paz-mundial/

sábado, 26 de dezembro de 2015

A tragédia da vida, do teatro e da comédia: roubos, trapaças e transgressões

"Em Pádua, eu ia observar os peões vendendo seu gado na feira de pecuária, depois Sartori me levava às espeluncas da periferia da cidade para comer carne de cavalo defumada, no meio daqueles a quem ele chamava de 'ladrões de cavalos'. Senti naqueles bairros o que poderia ser uma autêntica commedia dell'arte, em que os personagens estão permanente na urgência de viver"
Jacques Lecoq, O Corpo Poético - uma pedagogia da criação teatral, 2010, p. 31


A viagem pela representação, ou pela expressão de si mesmo, ou das dores sociais, caminha por difícil trilha. Na verdade, é uma trilha que outros já percorreram, mas que se movimenta diferentemente de acordo com o tempo e o espaço de cada um, com suas dores e experiências peculiares.

Entender que a comédia é a expressão de uma urgência pela vida, onde as pessoas necessitam praticar pequenas ou grandes trapaças, e que, apesar de ter a vida no limite, no caminho marginal, ainda assim, ou por isso mesmo, provocam o riso, me faz lembrar de Tortell Poltrona, que aprende a comédia a partir das procissões religiosas na Espanha, onde a seriedade e a rigidez do ato religioso provoca a possibilidade de riso, quando as coisas ficam no limiar do desastre, da queda do santo, do tombo da freira, ou da forçada seriedade dos carolas.

A proximidade dos opostos que a comédia permite ver me liga também com o extravagante, obsceno e expressionista Frederico Fellini, em filmes como Amarcord, quando o filho de um torturado político dá gargalhadas ao ver o pai retornando completamente esgotado, sujo (na verdade, cagado) e pálido, após uma seção de torturas promovidas pela forçada ingestão de óleo de rícino, em quantidades desumanas.



Lembro-me também do belíssimo filme "As viagens do Capitão Tornado", onde uma companhia de teatro mambembe percorre os vilarejos, encenando trechos de commedia dell'arte. O mais chocante é quando um nobre, completamente desprovido de bens, que morava num castelo praticamente destruído e sem nenhum luxo, careca por ter raspado os cabelos por causa dos piolhos, resolve entrar na companhia de teatro e desempenha o papel do guerreiro, só que, no seu caso, totalmente desastrado, por ter medo, não ter ensaiado direito, e ter que agir num improviso desesperador.


O brilhantismo do ridículo nobre sem nobreza assemelha-se à ridícula desgraça do torturado, bem como às procissões, ou aos desfiles militares, "a um passo do ridículo", e ao ridículo desespero da vida dos marginalizados, dos bêbados, dos mendigos, dos famintos.

Entender a nobreza e a beleza da vida, na particularidade da expressão cômica, vem da capacidade de observação profunda das dores e das posturas rígidas, por um lado, ou flexíveis, por outro, dos que necessitam sobreviver agarrando-se a uma fé estreita, inflexível, mas que pode ser adulterada pela necessidade urgente da sobrevivência. Captar esses movimentos e colocá-los em cena, por meio do teatro, do ato cômico, da comédia, é um roubo, uma trapaça que devolve o frescor da vida, mas que necessita uma capacidade imensa de observação dos movimentos e das razões de existência, por mais absurdos que sejam ou pareçam.

Talvez isto possa explicar, em sua profundeza, traficantes dos morros do Rio expulsando terreiros de umbanda, a pedido de suas mães evangélicas. Ou mesmo as passeatas dos conservadores de direita (ah, eles também existem na esquerda, só que de outra forma), solicitando intervenções militares constitucionais, fazendo topless, ou posando do lado dos policiais, em selfies magníficos. 

E talvez Jacques Lecoq, com seu olhar humano, afirme que é possível relaxar os alemães no momento pós II Guerra, momento em que ele leva o teatro e os movimentos corporais, "desnazificando" os alemães. Talvez essa seja a forma de conversar com os fascistas, trapaceando-os, por meio do relaxamento e dos movimentos. 

Observemos. Tentemos. Ousemos. 


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Resenha - South Asia’s Child Rights Theatre for Development: the empowerment of children who are marginalised, disadvantaged and excluded.

Resenha – ETHERTON, M. South Asia’s Child Rights Theatre for Development: the empowerment of children who are marginalised, disadvantaged and excluded. In: Boon, R.; Plastow, J. Theatre and Empowerment: Community Drama on the World Stage. Cambridge: Cambridge University Press, 2004. p. 188-219.


por Sabrina Lima dos Santos - PIBIC/UEPB 
   
Theatre and Empowerment se trata de uma apresentação de diversos projetos desenvolvidos a partir da arte como ferramenta de transformação e desenvolvimento social com as camadas sociais marginalizadas. Tais projetos são desenvolvidos por estudiosos/artistas, que mostram a capacidade do teatro, da música, da dança e performances nas diversas comunidades em que são aplicados os projetos, afirmando o resultado positivo e a necessidade desses processos na afirmação e no empoderamento do ser, despertando a voz e desabrochando a identidade das comunidades marginalizadas. Irei me debruçar aqui sobre o Capítulo 8 do livro, em que, particularmente, me interessa bastante. Tal capítulo analisa um projeto de teatro com crianças excluídas, no Sul da Ásia, como ferramenta para a promoção da auto afirmação e garantia dos seus direitos.

Theatre for Development (TFD) foi o projeto idealizado por Michael Etherton, que parte da idéia de workshop teatrais para o desenvolvimento e garantia dos direitos das crianças, que se estendeu por várias regiões do Sul da Ásia - Índia, Bangladesh, Paquistão, Sri Lanka e Nepal - e foi trabalhado de diversas formas. A primeira experiência do TFD foi realizado na comunidade de Dhaka, em Bangladesh, em 1988. A oficina foi realizada com os ativistas do programa de desenvolvimento de Bangladesh, Save the Children, e alguns estudantes de teatro da Universidade de Dhaka. Em um primeiro momento, foi-se trabalhada com os moradores de uma aldeia remota do país e foi perceptível um entusiasmo e uma participação intensa e inesperada da comunidade. Jovens, adultos e mulheres começaram a desenvolver performances e debates sobre a identidade de cada um dentro da comunidade.

Posteriormente, foi-se amadurecendo a ideia de trabalhar o TFD na perspectiva de assegurar e auto-afirmar os direitos das crianças excluídas. Com o projeto, as crianças conseguem comunicar as suas perspectivas para adultos em posições de poder e autoridade, abrindo espaço para diálogos entre eles sobre a garantia dos direitos dos jovens e crianças marginalizados. De acordo com a The Convention on the Rights of the Child (CRC), que foi a escora para o ativismo mundial para assegurar o reconhecimento global a e compreensão dos Direitos da Criança, os artigos 12°, 13° e 15° garantem a participação das crianças em tomadas de decisões. De acordo com esses artigos a criança tem o direito de formar opiniões e de expo-las, aplicando, também, em assuntos judiciais e administrativo que a envolva, tem o direito de transmitir e receber informações por meio de qualquer ferramenta midiática e possui o direito à liberdade de associação.

A partir disso, a atuação do TFD é de uma utilidade pública imprescindível a partir do momento em que utiliza a arte, o teatro, para a promoção do desenvolvimento de uma camada social marginalizada no Sul da Ásia, dando vozes aos oprimidos. O processo pelo qual perpassa o projeto é sensível e humano; o TFD preza pelas criações dos dramas de maneira coletiva e criativa, visando a problematização dos assuntos que lhes dizem respeito através da comunicação entre os participantes e de performances expressivas, não se debruçando pelo teatro didático, onde há um script pronto. Essa criatividade coletiva permite que as crianças e os jovens explorem e despertem o poder de escutar e compreender o outro, desabrochando o empoderamento do ser.

Os impactos do Theatre for Development são positivos e impactantes, sendo uma forma de crítica aos descasos governamentais dos países Sul Asiáticos e sendo um agente ativo que promove a auto-afirmação da identidade das crianças e dos jovens socialmente marginalizados. Uma grande movimentação de ONGS estão se aliando para solidificar o reconhecimento do estatuto legítimo das crianças e jovens, o 'Movimento das Crianças' e o TFD esta sendo um ator importantíssimo nesse processo. 

Theatre for Development transcende todos os patamares de exclusão social e da marginalização da sociedade. A partir do momento em que as crianças escolhem os métodos de expressão, as dinâmicas a serem trabalhadas e os problemas a serem dramatizados, elas estão exercendo seus direitos e desenvolvendo o empoderamento. Elas enxergam os problemas de diversas formas e é a partir disso que se pode encontrar uma forma alternativa e eficaz para resolve-los. É necessário que se perceba e valorize essa capacidade da arte no processo de sensibilização, de empoderamento e de segurança humana. A arte transforma; a arte cria pontes de comunicação; a arte pacífica; a arte soluciona; e é preciso exerga-la como uma ferramenta poderosa para a promoção da paz, seja no teatro, na dança, na música ou no papel.